Projeto coloca crianças da rede pública em contato com o audiovisual
por Ney Hugo
Ahmad Jarrah (Próxima cena) e as crianças da oficina
A filial Cuiabá da Central Única das Favelas(CUFA) realiza no próximo fim de semana o Festival Consciência Hip-Hop. Já em sua segunda edição, o festival visa descentralizar a cultura urbana, dando voz a grupos de periferia, sejam estes MCs, Bboys (dançarinos de break), DJs ou grafiteiros. Além das atrações nacionais Racionais MC’s e MV Bill, o Festival Consciência Hip-Hop, que acontece nos dias 10 e 11 de novembro, trará também vários grupos de rap de Cuiabá e de cidades do interior do estado, selecionadas através das prévias do Consciência Hip-Hop nas cidades de Rondonópolis, Barra do garças, Primavera do Leste e Sinop.
Indo muito além dos dias de festival, a CUFA já vem realizando ações prévias. Além do processo de seleção dos grupos de rap, essa semana está acontecendo a Mostra Consciência de Vídeos. O trabalho consiste na exibição de videoclipes de grupos de rap e documentários a crianças de escolas da rede pública de Cuiabá. Nessa segunda feira, a escola participante foi Juscelino José Reiners, do bairro Jardim Novo Horizonte.
O bacana é que a mostra de vídeos funciona como uma oficina, onde o “professor” debate com as crianças assuntos como uso de drogas, criminalidade, estruturas sociais de trabalho, entre outros. Quem está ministrando as oficinas (o “tio” em questão) é Ahmad Jarrah, da frente gestora Próxima Cena, o núcleo de audiovisual do Instituto Cultural Espaço Cubo. Após uma rápida explanação sobre o que é audiovisual, as crianças assistem documentários independentes produzidos em grandes favelas brasileiras. Um desses documentários é o “Cristo”, que retrata a invisibilidade social – o grau de cegueira da sociedade brasileira para com os cidadãos excluídos.
Durante a oficina na segunda-feira, DJ Taba, da CUFA também participou, dando um depoimento de como costumava se divertir em sua infância nas periferias de Cuiabá. Além disso, deu também às crianças uma rápida explanação a respeito dos 4 elementos do hip-hop: o MC, o grafite, o DJ e o Break.
Duas situações curiosas aconteceram nesse dia durante a oficina. Em um dos documentários era executada aquela canção funk, cujos versos ficaram famosos nacionalmente: “o que eu quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci(...)”. Ok, alguém cantar esses versos é sim clichê e senso comum... mas a coisa muda um pouco de figura quando os “cantores” são um grupo de mais de 65 crianças, de 9 a 11 anos.
Um outro momento foi o final da exibição do último documentário, que retratava a violência policial contra moradoras da favela e a conivência da imprensa com aquilo tudo. No final do vídeo, o que se esperava era o alívio e a pressa fugitiva normal das crianças em idade escolar. Mas o que se ouviu foram sonoras palmas... quem é que entende?!
Pouquíssima pessoas, infelizmente.
Em conversa com uma das professoras, após a oficina, ouvi que aquilo exibido no vídeo era balela para muitas daquelas crianças. O convívio diário com a violência já a torna banal, de certa forma. E é aí que entram os trabalhos da CUFA e suas oficinas de expressões artísticas ligadas direta ou indiretamente ao hip-hop, como é o caso do audiovisual.
Será que deu pra entender agora? Questão de Consciência...
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