Festival derruba preconceitos


"A ONU não me engana, salve a heróica resistência iraquiana!". A frase,cantada pelo MC Higor Marcelo Lobo, no meio da Praça da República, na manhãdesta terça-feira (4) finalizou a participação dos alunos da escola estadual Mário de Castro, do bairro Pedra 90, no 3º Festival Consciência Hip Hop.Promovido pela Central Única das Favelas de Mato Grosso (Cufa-MT), com oapoio da Secretaria de Estado de Cultura, o Festival segue até o dia 8 desetembro, com atividades educativas e culturais em vários pontos da cidade.Na atividade de hoje, denominada Consciência Turismo, os alunos, guiados porintegrantes da Cufa-MT , fizeram uma viagem pelo mundo do hip hopmato-grossense. O roteiro começou no núcleo social da Cufa-MT no bairroJardim Vitória, onde eles conheceram o projeto "Favela Digital", pelo qual aentidade proporciona a jovens carentes do bairro o acesso à Internet ecursos de computação por preços acessíveis. O projeto, localizado na partecentral do bairro, conta também com uma biblioteca, a LiteraturaCentral. "Esse é um espaço de diálogo com a comunidade; aqui realizamos muitos eventos daCufa-MT, como foi o caso de lançamento do Festival. É o lugar onde aspessoas vêm para conhecer melhor a Cufa", explicou o integrante da entidade, Patrick, o Pack Nolé. Ao todo, cerca de 45 alunos da escola participaram da atividade.Acompanhando os estudantes estava a professora de Artes Simionai CastilhoLírio. Para ela, a principal vantagem do Consciência Turismo foi a quebra dopreconceito contra o movimento hip hop. "Os alunos acabam aprendendoverdadeiramente o que é a Cufa e o hip hop. As pessoas têm uma visão estereotipada desse movimento; acham que é só dançar break e associam com amalandragem", comentou ela. "Aqui, eles estão vendo que é muito mais queisso; é um trabalho de inclusão social muito grande."Acompanhando toda a movimentação, estavam os alunos do curso de audiovisualque está sendo oferecido paralelamente pelo Núcleo de Audiovisual da Cufa doRio de Janeiro. Durante todo o evento, eles irão registrar as atividades,material que será transformado em um documentário.Vencer o preconceito e a visão de que o movimento hip hop é unicamenteperiférico são alguns dos objetivos dos líderes do movimento. "O Brasil tem507 anos de existência e é sempre a mesma coisa: quilombo, periferia efavela. A população preta e pobre sempre foi marginalizada", alertou orapper HG, falando aos jovens reunidos na Praça da República.Natural de Dourados, no Mato Grosso do Sul, ele integra a banda FaseTerminal, uma das 40 bandas que se apresentarão durante o Festival. ParaHG, o acesso à informação é uma das principais armas na luta contra aalienação. "Com a Internet fica mais fácil ter acesso a outras fontes deinformação. Por isso o trabalho de inclusão digital desenvolvido pela Cufa étão importante. A Cufa tenta minimamente fazer o que o Estado deixa defazer. Porque o Estado só atende o interesse da classe dominante. Cansamosde esperar que as coisas venham de cima. De cima, só vem repressão", disseele.Morador do bairro Pedra 90, o rapper Wilson Alves, que participa domovimento hip hop há dois anos, achou interessante a atividade desenvolvidano Consciência Turismo. "É uma parada bem legal, bem educativa. Os alunosvão aprender o que é hip hop e ao mesmo tempo, nós do hip hop estamos tendoum contato maior com o público da escola", disse ele.A aluna Wingleth Patrícia Ferreira Lima, do Ensino Médio da escola Mário deCastro, apontou as vantagens do evento para a conscientização. "A genteconhece melhor o hip hop. Eu não conhecia a Cufa-MT; agora quero participarmais. Deveria ter uma base da Cufa também no Pedra 90", disse ela."Já tinha visto hip hop só na televisão e achava que era apenas uma misturade músicas. Hoje pude saber quais são os elementos dessa cultura", explicouo estudante Fábio Rogério Barros de Almeida, de 20 anos. Já o estudanteTiago Ferreira Carneiro, de 16 anos, apesar de já gostar de rap, pouco sabiada história do hip hop. "Não é bem como a gente pensava que era, é bemmelhor. Eu pensava que a pessoa cantava porque gostava, inventava a letra.Hoje dá para perceber que a música fala da realidade", resumiu ele.Quem estava passando pela Praça da República parou para ver o movimento, quecontou com demonstrações de break, MCs e graffiti. Alunos da escola Mário deCastro e moradores do bairro Jardim Vitória também entraram na dança emostraram suas habilidades. "Eu gostei muito. É bom para divulgar a cultura;tem gente que não reconhece o talento destes jovens", disse o auxiliar deserviços gerais Nelson Gean da Silva Rodrigues, de 20 anos. O tambémauxiliar de serviços gerais Rivaldo José da Silva, de 43 anos, aprendeu evai repassar o significado do hip hop. "É a primeira vez que vejo esse tipode apresentação. Não sabia o que era o hip hop; de agora em diante voutransmitir isso aos meus amigos", disse ele.

Nenhum comentário: