O show da banda paulista SNJ-Somos Nós a Justiça encerra na noite destesábado (8) a programação do 3º Festival Consciência Hip Hop, promovido pelaCentral Única das Favelas de Mato Grosso (Cufa-MT). A programação acontece àpartir das 18 horas, na Praça Tradições Culturais, no Porto.Debates, apresentações artísticas de break, B. Boys, MCs e performances degrafiteiros, entre outras atividades, têm movimentado Cuiabá. Na noite destasexta-feira (7) várias bandas locais se apresentaram no palco do festival, ea estrela da noite foi a banda de rap africana Sevenlox, composta de músicosvindos da Guiné-Bissau. Batalhas de MCs e dançarinos de break tambémanimaram a noite na Praça das Tradicões Culturais, onde foi armada uma FeiraUrbana.
Neste sábado (8) encerra-se também a programação do "Consciência Seminário",mesa de debates que está reunindo representantes do hip hop, produtoresculturais e autoridades do segmento para discutir formas de fortalecer acultura hip hop na região Centro-Oeste. Os debates acontecem à partir das14 horas, no Clube Fe
minino, no centro da Capital.Ontem (7), o "Consciência Seminário" reuniu cerca de 200 rappers, DJs, B.Boys, grafiteiros e outros militantes da cultura hip hop da capital e dointerior de Mato Grosso, de várias cidades do Mato Grosso do Sul, de Goiânia e de Brasília. A idéia é formar uma rede de troca de experiências,fortalecendo os mecanismos de formação, circulação e consumo dos produtos dacultura hip hop.Porém sem ter o mercado como fim principal. É o que explica Paulo Fagner daSilva Ávila, o DJ Linha Dura, um dos integrantes da Cufa-MT. "Queremostrabalhar fora dessa lógica capitalista, de 'artista estrela'. Artista écomo pedreiro, tem que ralar muito."Seguindo essa lógica, nesta edição do festival foi priorizada a participaçãodos grupos do interior de Mato Grosso e de grupos artísticos poucoconhecidos de outros estados. "Este ano, a idéia foi fazer uma espécie defestival underground de rap, trouxemos alguns grupos que nunca tinham saídode seu estado, para valorizar principalmente os grupos pouco conhecidos",comentou ele. Ao todo, 40 grupos participam do festival.Investimento – A falta de organização do movimento hip hop foi a principalfalha apontada pelos integrantes do movimento presentes no primeiro dia de"Consciência Seminário". Também houve reclamação quanto à falta de apoiodo poder público. A conseqüência, segundo os militantes, é o espaço restritoque o hip hop ocupa nos vários municípios. "Falta espaço, porque público agente já tem, que é o pessoal da periferia", comentou o coordenador da Cufaem Sinop, Anderson Maciel. Para ele, a organização e a centralização dasações são a chave de tudo. Apesar dos problemas, em sua opinião, o movimentotem conseguido se organizar. "Em Sinop, está aumentando a consciência dosgrupos, eles já estão se tornando seus próprios produtores. Só através daorganização é que vamos poder debater de frente a frente com as autoridades,sejam de que patente forem."A necessidade de organização dos grupos também foi apontada pelosparticipantes de Brasília. Eles garantem que, apesar de estarem próximos doscentros de poder, a dificuldade para captar recursos é grande. E opreconceito contra hip hop é um dos principais entraves. "O Estado vê omovimento com outros olhos. Sem um empresário por trás é muito difícil paraos grupos ocuparem espaços", opina o vice-presidente da Associação OriginalJovem, Antônio Pereira. Ele e o presidente do Recanto das Emas Crew,Welington Matias, o Tom, relatam a realidade: "Os MCs pagam para cantar nosshows. Há uma desvalorização do hip hop. Enquanto cantores de axé ganhamentre R$ 500 e R$ 600, os rappers recebem R$ 50 por show."No Mato Grosso do Sul, a situação é parecida. Jovens de municípios comoDourados e Campo grande reclamam da dificuldade em aprovar projetosculturais. "Mandamos projetos que nunca são aprovados. Aqui no encontro,espero aprender um pouco mais sobre as leis de incentivo à cultura e aelaboração de projetos", comentou o B. Boy Daniel Ferreira, o Bob."Nossas obras são tão importantes quanto as do Chitãozinho e Xororó, mas nãotêm a mesma visibilidade", aponta o músico HG, que também vê de formapositiva a mobilização do movimento em torno da organização, a exemplo doque vem acontecendo em Dourados, onde estão surgindo novos grupos degrafiteiros e rappers. "Para ser respeitado, é preciso primeiro serespeitar, encarar o hip hop não apenas como militância, mas como arte, seprofissionalizar", alertou ele, falando aos jovens reunidos no seminário.O diálogo entre as manifestações culturais das diferentes camadas dasociedade foi a solução apontada pelo professor José Carlos Iglesias paradiminuir o preconceito contra o hip hop. Filósofo e docente das faculdadesUnicen, em Tangará da Serra, ele se intitula um mediador entre o movimentohip hop e a academia. Iglesias acompanha os jovens do movimento na cidade, ejá os levou até para se apresentar nas dependências da universidade. Opreconceito, embora esteja sendo vencido, ainda persiste, garante ele. "A elite vê o hip hop como uma contracultura, tem medo desses jovens, os vêcomo bandidos. No fundo é o preconceito de classe, racismo, intolerânciacontra o pobre. E o movimento quer ser aceito como cultura. Para isso,precisa haver um diálogo entre ambos, tanto a elite – que precisa aceitar omovimento -, como dos próprios jovens do hip hop, que precisam deixar de termedo de se aproximar de pessoas diferentes deles."Apoiado pelo Governo do Estado de Mato Grosso e pela Prefeitura Municipal deCuiabá, o Festival Consciência Hip Hop já é considerado o maior evento dacultura Hip Hop da região Centro-Oeste.O festival surgiu em 2005 com o objetivo de descentralizar e fomentar a artecrítica. Essa cultura é considerada hoje um dos instrumentos mais úteis deinclusão social no mundo. Promove a construção do conhecimento críticoatravés das manifestações artísticas dos jovens oprimidos, por meio doGraffiti (artes plásticas), MC (Música), DJ (Música), Break (dança) eBasquete de rua (Esporte).
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